quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Guerra dos Sexos - Por que a Baixa Audiência?



Tony Ramos e Irene Ravache como Otávio e Charlô
Estreou em outubro o remake de Guerra dos Sexos, substituindo o fenômeno Cheias de Charme e com uma responsabilidade gigantesca nas mãos, segurar a audiência gigantesca deixada por sua antecessora. Responsabilidade que Guerra dos Sexos não teve, ficando com uma audiência que só não é menor que a do último fracasso do horário, Tempos Modernos. Mas será que “Guerra” merece essa baixa audiência que faz com a novela seja chamado de fiasco do horário? Vamos analisar um pouco.
Reynaldo Gianecchini e Glória Pires vivem Nando e Roberta
Felipe (Edson Celulari) com suas 5 ex-mulheres.
      Primeiro vamos ao texto. Sílvio de Abreu é dos grandes mestres da nossa teledramaturgia e já nos brindou com ótimas novelas. Mas infelizmente vejo nele um dos maiores culpados pelo fracasso de audiência. Adoro o Sílvio e respeito e muito o seu trabalho. Mas ele deveria fazer mais do que simplesmente pegar o texto original de 1983 e mudar uma ou outra palavra. E isso acaba com vários furos, alguns até ridículos e outros menos notórios. Em um capítulo Nieta (Drica Moraes), diz que com ela é “Pão pão, beijo beijo”. Muita gente não deve ter entendido. Nieta é uma noveleira assumida, o que faz com o personagem tenha em suas falas algumas referências a telenovelas. O Pão Pão, Beijo Beijo é uma alusão a novela das 6 de mesmo nome que estava no ar no ano da novela original. Atualmente a frase ficou sem sentido. Um furo maior ainda ocorreu com o personagem Kiko (Johnny Massaro), que em um capítulo disse que ele podia imprimir algo, pois havia aprendido na faculdade. O furo não é somente grotesco pelo fato de que qualquer pessoa hoje em dia aprende a imprimir antes mesmo de ir para a escola como também pelo fato de que o personagem é envolvido com o meio da informática. Outro furo parecido ocorreu com Zenon (Thiago Rodrigues), que manda cartas para se comunicar com a família em pleno 2012. Os diálogos parecem arrastados e declamados, o que não combina com a agilidade das novelas atuais.
Bianca Bin como Carolina, personagem que foi de Lucélia Santos.
Quanto à direção, a cargo de Jorge Fernando, há um equívoco grande. Não parece novela que Jorge Fernando está dirigindo. A parceria com Sílvio que não rendeu apenas a primeira versão de Guerra dos Sexos como várias outras novelas brilhantes com a comédia como mote central parece não estar dando certo agora. É melhor Jorge se mexer antes que a novela não tenha mais volta.
      


Luana Piovani como Vânia e Tony Ramos como Otávio.
 O elenco, na minha opinião, é o melhor da novela. Tony Ramos e Irene Ravache estão brilhando com seus personagens, brindando com boas atuações, apesar de ambos parecerem exagerados demais em alguns momentos, nada que lhes tire o brilho do seu talento. Glória Pires está ótima, acertou muito bem o tom da sua Roberta Leoni. Edson Celulari está muito bom, apesar de diversas críticas negativas que recebeu, estou adorando a sua atuação. Outro destaque é Drica Moraes, esbanjando talento e carisma. Bianca Bin começou mal, artificial e sem personalidade, mas acertou o tom com o tempo e agora sua Carolina está bem mais crível. Mariana Ximenes está bem, mas parece não ter se achado ainda e seu personagem até agora está quase que sem função na história. Reynaldo Gianecchini não está bem, não gostei da sua atuação, porém seu carisma tira um pouco de foco a sua má interpretação. Thiago Rodrigues está muito exagerado, gritando demais, alguns momentos até me pareceu que estava tentando imitar o jeito do Edson Celulari (ator que fez Zenon na primeira versão). Eriberto Leão e Luana Piovani me surpreenderam, não esperava tantos dos dois, que se mostram seguros e fazem personagens críveis e bem interpretados. Paulo Rocha está neutro, interpreta bem as cenas de brigas com Manuela (Guilhermina Guinle) e as cenas de pai com Cissa (Jesuela Moro), mas se torna exagerado e palhaço demais em cenas com Felipe (Edson Celulari). Guilhermina Guinle está segura e interpreta muito bem Manuela, mostra a cada papel que tem talento para ir mais e mais longe. Raquel Bertami é a revelação da novela, mostrou talento e pode ter um bom futuro pela frente.
Eriberto Leão vive o lutador Ulisses.
      Não acho que o problema de Guerra seja o tema, dito por muitos como datado demais e sem sentido no mundo atual. O grande problema está no texto e na direção, que parece estar preguiçosa e mal feita por parte de seus responsáveis. O elenco está bem, pouco há para reclamar das atuações. Situações que são para serem engraçadas soam ridículas e sem graça alguma e dramas que são para serem tristes soam nem tão tristes assim. Sílvio de Abreu tem talento, Jorge Fernando então nem se fala, então por que Guerra dos Sexos está tão mal das pernas, tanto em qualidade quanto em audiência? É uma questão a ser analisada. Não é o remake em si o problema, tanto que Gabriela (2012), O Astro (2011) e Tititi (2010) estão aí para provar. Ainda tenho esperanças de que Guerra dos Sexos pode melhorar, talvez surja uma luz que faça com que Sílvio de Abreu e Jorge Fernando nos deem mais uma novela grandiosa que nos dê gosto de assistir a cada dia.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Gabriela - Uma polêmica adaptação


Gabriela terminou e vai deixar saudades, pelo menos em mim. Como não pude ver a primeira adaptação, de 1975, esta seria uma ótima oportunidade para conhecer este maravilhoso mundo de Jorge Amado na televisão. E não me arrependo de ter quase dormido na aula por ficar acordado assistindo à novela no dia anterior. Gostei praticamente de tudo, e, por mais que eu tenha gostado da novela, não deixo de reparar em vários defeitos que esta obra conteve. Não fico procurando falhas e nem paro de assistir por um simples erro no texto ou na atuação de algum ator. Não sou exigente demais quando o assunto é novela. Se ela me pegou desde o seu início, dificilmente pararei de acompanhá-la.
Divulgação da novela
      O texto de Walcyr Carrasco, admito, não é dos melhores que podemos encontrar atualmente na nossa teledramaturgia. Mas também não é motivo de uma perseguição gratuita ao autor. Tem vários defeitos, falhas, etc. Mas também emociona e, como já falei, me prendeu durante os poucos meses de duração da novela.
      Iniciarei falando sobre as falhas no texto da novela. Logo no início, se repararmos bem, podemos ver que o Coronel Coriolano (Ary Fontoura) praticamente dizia a mesma fala sempre: “Não preciso ir ao Bataclã! Estou muito bem servido com a minha Teúda e Manteúda!” O Coronel falou somente isso até o momento da trama em que o Professor Josué (Anderson Di Rizzi) começou a ter um caso com Glória (Suzana Pires), a teúda e manteúda do Coronel. As Irmãs dos Reis, Florzinha (Bete Mendes) e Quinquina (Ângela Rebello), geralmente falavam as mesmas coisas sempre que estavam em cena. Zarolha (Leona Cavalli), após retornar a Ilhéus, geralmente declarava sua fúria contra Gabriela com falas como “Vou recuperar meu Turquinho e separar ele de Gabriela!” Olga (Fabiana Karla) e Tonico (Marcelo Serrado) não só tinham as mesmas falas juntos como faziam sempre a mesma cena juntos. Pra mim, essa clara e cansativa repetição de acontecimentos e falas foi um dos maiores erros de Carrasco na sua adaptação. Não vejo as situações humorísticas e bobas como um problema na novela, até porque não houve exagero de cenas desse tipo. Mas se o humor for direcionado a personagens sérios como o Coronel Jesuíno (José Wilker) e o Coronel Ramiro (Antonio Fagundes) fica algo pouco crível e tira a essência do personagem. Aliás, um grande erro de Walcyr foi abusar de expressões pejorativas como “merda” e “bosta” nas falas do Coronel Ramiro (Antonio Fagundes), o que seria até normal para um coronel machão dos anos 20, mas causa estranheza se forem abusadas, como aconteceu.


Juliana Paes como Gabriela
     Cada trama teve seus desfechos bem feitos e o desenrolar da história de cada um dos moradores de Ilhéus foi bem conduzida pelo autor durante toda a novela. As tramas de mulheres oprimidas eram as minhas preferidas. Aliás, todo núcleo tinha uma mulher sem liberdade de fazer o que realmente desejava. Gabriela (Juliana Paes), a personificação do real desejo de toda mulher da época, foi apenas um pano de fundo, não teve uma trama realmente emocionante como vários outros personagens, mas fez o seu trabalho. Dava pra sentir a tristeza da personagem ao ser “trancafiada” pelo casamento e a clara decepção de Gabriela (Juliana Paes) para com Nacib (Humberto Martins) foi o ápice da personagem e do seu núcleo, que pouco interessava no início da história. O drama carregado de Lindinalva (Giovanna Lancelotti) foi algo que fez com que eu me interessasse ainda mais pela trama. Adoro dramas, principalmente no final, quando a personagem que tanto sofreu finalmente alcança a felicidade e o terrível vilão paga pelos seus pecados. Adorei o capítulo em que Juvenal (Marco Pigossi) dá uma surra no seu irmão Berto (Rodrigo Andrade) e faz um escândalo na cidade, falando verdades na cara de todos. Dona Sinhazinha (Maitê Proença), fadada ao casamento infeliz com o bruto e ignorante Coronel Jesuíno (José Wilker), encontra nos braços do doce e cavalheiro Dr. Osmundo (Erik Marmo) o verdadeiro amor e a felicidade, até ser morta pelo marido. Quer uma trama melhor? Na verdade, Jorge Amado sempre teve um texto com ares de folhetim, de fácil identificação com novelas. A história de amor entre a neta do Coronel Ramiro (Antonio Fagundes), Jerusa (Luiza Valdetaro), com o inimigo político do avô, Mundinho Falcão (Mateus Solano), não poderia ter mais apelo folhetinesco. Minha personagem preferida era Malvina (Vanessa Giácomo), a menina rebelde e cansada da sociedade opressora e falsa moralista em que vive e que faz de tudo para viver um amor verdadeiro. As cenas de sexo presentes na novela são quase que obrigatórias tendo em vista a sensualidade e o erotismo da obra de Jorge Amado e, a meu ver, não tiram nada da beleza da trama.
      Gabriela foi antes de tudo, uma novela linda de se assistir. E isso se deve a todo o trabalho da produção da novela. A fotografia excelente e a boa reconstituição da Ilhéus dos anos vinte são marcas da novela. A direção de Mauro Mendonça Filho foi promissora.
Maitê Proença e José Wilker interpretaram Dona Sinhazinha e Coronel Jesuíno

      A interpretação dos atores talvez seja o que mais vai marcar Gabriela. Tanto novatos quanto veteranos. Juliana Paes montou uma Gabriela a sua maneira, conseguiu captar o espírito do personagem e fez um ótimo trabalho. Acho que ninguém esperava algo realmente marcante como foi com Sônia Braga. Juliana mostrou ser uma ótima atriz ao interpretar um personagem muito difícil de compor. Giovanna Lancelotti, Marco Pigossi e Rodrigo Andrade fizeram ótimos trabalhos em seus núcleos, visto os personagens que fizeram antes na novela (totalmente diferentes). O jovem trio foi uma revelação e esbanjou talento em cenas dificílimas. Ivete Sangalo, uma polêmica escolha para viver Maria Machadão, não fez feio, mostrou segurança, não fez vexame como outros atores profissionais já fizeram. Não posso dizer que gostei da sua atuação, mas não vou dizer que foi ruim, que era um horror assistir. As já conhecidas Vera Zimmermann e Bel Kutner brilharam em seus nem tão grandes papéis, mas que foram magistralmente interpretados pelas duas atrizes. A parceria das duas com Mendonça Filho em O Astro (2011) já havia feito sucesso. Gero Camillo, nome pouco conhecido na televisão, fez um ótimo trabalho com seu Miss Pirangi, sem tornar algo muito forçado, o homossexual assumido interpretado por ele foi um destaque a parte na novela. Luiza Valdetaro e Vanessa Giácomo também brilharam, demonstrando segurança e maturidade ao interpretarem personagens que vão se fortalecendo de acordo com o desenrolar da trama. Mateus Solano também não fez feio, mas não empolgou como eu esperava. Chico Diaz também mostrou o ótimo ator que é ao interpretar o rude Coronel Melk, pai de Malvina. Maitê Proença, em uma pequena aparição, brilhou e esbanjou talento, com uma interpretação perfeita da mulher oprimida pelo marido. E como falar de boas atuações sem falar das duas maiores estrelas da novela? Estou falando é claro de Laura Cardoso e José Wilker. Os dois roubaram a cena, com interpretações magníficas. Ganharam espaço na internet, onde seus bordões e trejeitos viraram memes no Facebook.  Laura na pele da fofoqueira e pilar moral de Ilhéus, Dona Dorotéia (criação original de Carrasco) voltou com as beatas falsas moralistas para as telas. Foi ela a responsável por boa parte das desgraças de Ilhéus. No final descobre-se que foi “quenga” no passado. E ainda fala que era melhor ser quenga do que ser mulher casada, se alguém lhe quisesse voltava ao ofício. Tem como não gostar de Laura Cardoso e dessa personagem? Já Wilker fez um papel difícil, que tinha que ser odiado por todos. E fez bem. Colocou emoção, humanizou mais o rude coronel que, pouco antes de ser preso pela morte da esposa e do amante dela, diz que ainda a amava.
Giovanna Lancelotti como a sofrida Lindinalva
      Mas temos que ver os atores que deixaram um pouco a desejar. O veterano Antonio Fagundes me decepcionou um pouco, esperava mais do que uma mistura dos vários papéis semelhantes feitos pelo ator. Humberto Martins também não foi tudo isso, deixou no ar um “poderia ser melhor”, mas não fez feio. Marcelo Serrado se equivocou um pouco ao compor seu Tonico Bastos, deixou-o palhaço demais e o texto não o ajudou. O mesmo pode-se dizer para Fabiana Karla. Anderson Di Rizzi começou bem, mas traços do Sargento Xavier de Morde e Assopra começaram a aparecer com o tempo. Erik Marmo não achou o tom certo, seu personagem não ficou crível e não rendeu uma boa atuação. Muitos foram os prejudicados pelos fracos textos de seus personagens, como Leona Cavalli, que havia achado o ponto certo para fazer sua Zarolha, mas que se tornou uma vilãzinha qualquer quando voltou a Ilhéus. Ary Fontoura, Bete Mendes, Mauro Mendonça e Genézio de Barros foram outros injustiçados pelo texto.
Dona Dorotéia, a espetacular composição de Laura Cardoso
      Se fosse para dar uma nota para Gabriela, daria um 8,5. Os erros estavam claros e isso prejudicou bastante a novela. Porém, houve muitos momentos emocionantes que me prenderam, que me fizeram não pegar no sono e me tornaram um telespectador cativo da novela. A ótima atuação da boa parte dos atores foi outro grande ponto alto da novela, além, como já foi comentado, a boa fotografia e cenários. Meus parabéns a todos os envolvidos com a produção de Gabriela e espero ansiosamente Saramandaia ano que vem, outra adaptação de uma obra de um mestre. Espero realmente que seja tão boa e ainda melhor que Gabriela.